TikTok + WGSN
O olhar mais consciente que a gente tem hoje na geração e consumo de conteúdo digital tem nome: intencionalismo. Esse é um dos três movimentos que já começaram a direcionar e ainda vão mover muito o mercado de conteúdo digital nos próximos anos, que a gente identificou numa nova pesquisa com a consultoria WGSN.
Foi-se o tempo em que consumir conteúdo na internet era só uma forma de lazer. Hoje, criar também se tornou uma forma de compartilhar conhecimento. Entusiastas dos mais diversos assuntos e disciplinas encontraram no digital uma forma de dividir o que sabem com o mundo, criando uma nova era de creators especializados.
Essa mudança de percepção sobre a criação de conteúdo também influenciou o papel das mídias digitais, que se transformaram em ferramentas colaborativas de ativismo pra discutir e trabalhar questões sociais. Elas são, hoje, um caminho pra fazer vozes antes silenciadas serem ouvidas.
Esses dois parágrafos aqui em cima descrevem, na verdade, macrotendências que são parte de um movimento que a gente chama de intencionalismo. No geral, ele aparece hoje no nosso olhar mais consciente em relação ao impacto do consumo de conteúdo no nosso bem-estar, na nossa saúde e na produtividade. Ele é uma das três forças que a gente mapeou numa nova pesquisa junto com a WGSN, na busca pela resposta pra pergunta de milhões: que comportamentos vão virar tendências no digital nos próximos anos?
Se você precisa refrescar a memória, vamos recapitular: o intencionalismo é fruto da mistura de sentimentos crescentes (que a WGSN mapeia todos os anos) com as expressões deles na tecnologia. No lado humano, a gente tá falando de quatro sentimentos complementares e cada vez mais presentes no dia a dia: dissociação, ociosidade, aceitação radical e neo-altruísmo. Na tecnologia, esses sentimentos são expressos no olhar mais dúbio que a gente tem sobre ela hoje. O otimismo puro que havia antes deu lugar a uma relação dual.
É um misto de preocupação com o papel da tecnologia na sociedade e empolgação com o futuro que pode ser construído a partir dela, sabe? E é dessa mistura que surge esse movimento, junto com outros dois escapismo e as comunidades. Mas vamos focar no primeiro.
As duas macrotendências dentro do intencionalismo – a era dos especialistas e o ativismo digital – são base pra várias trends que a gente vê web afora, sempre muito relacionadas a um uso mais "saudável" do digital. Só que, ainda que elas definam a relação de todo mundo com as redes, ganham novas camadas e especificidades que variam de acordo com a região. E pra falar das expressões desse movimento e suas macrotendências aqui na América Latina, a gente vai precisar, de novo, de um tiquinho de contexto.
Se na América do Norte ou na Europa a gente já tem duas regiões altamente conectadas, por aqui o que a gente vê é um processo de digitalização ainda rolando, mas a todo vapor. A América Latina hoje lidera a adoção da maior parte dos serviços online e de mídia no mundo, e está à frente até da China em penetração de internet.
Esse acesso massificado à tecnologia tem aberto portas e criado oportunidades que antes eram dificultadas pelo contexto socioeconômico. O ensino à distância explodiu, crescendo 474% no Brasil em apenas 10 anos, e a gig economy (a "economia autônoma") ganhou bastante espaço por aqui. Só que isso ainda não resolve a alta desigualdade que marca toda a região e nem elimina o clima de incerteza que ronda os países latinos.
Assim, segue bem vivo por aqui o desejo por novas vias de acesso a futuros melhores e possíveis – mas aquela dualidade de sentimento com o que vem pela frente, de otimismo e preocupação ao mesmo tempo, persiste. Tendo esse cenário de plano de fundo e agindo como um "filtro latino" pro movimento, o intencionalismo se desdobra por aqui assim:
Desenvolvimento: O entretenimento deixou de ser visto como um fim em si mesmo e passou a ser encarado como uma lente pra amplificar o conhecimento. O conteúdo digital abriu portas pra todo um leque de novas formas de desenvolvimento pessoal e profissional. Hoje, vamos mais gente dividindo com o mundo suas perspectivas sobre profissões, diferentes campos de estudo e até jornadas de saúde e bem-estar, agora numa linguagem com tom mais acessível e menos impositivo.
Oportunidade: O "boom" do conteúdo digital também criou um novo mercado, com novas oportunidades profissionais que vêm transformando a realidade latina. Na busca por carreiras com autonomia e conexão com o que gostam de fazer, há quem mergulhe de cabeça na chamada creator economy. E naquela onda de compartilhar conhecimento, também tem muito criador de conteúdo dividindo o que sabe sobre o ramo e ajudando a desmistificar a profissão.
Cuidado: O ritmo de criação de conteúdo está acelerado, e isso se reflete muito no coletivo. Só que cada pessoa tem seu próprio ritmo, e essa maior intensidade de todos ao redor pode acabar desrespeitando o limite de cada um. Nesse cenário, aumenta a busca por uma relação mais real com o que se consome no digital, com mais consciência e cuidado com o impacto dele em si mesmo e no mundo.
O consumo consciente de conteúdo digital que o intencionalismo traz é central pra marcas e creators. Ele pede um novo alinhamento de valores: conforme as pessoas deixarem de lado o conteúdo que não faz bem pra elas, o "relevante" pra elas vai ser aquele conteúdo que está em linha com o que acreditam e vivem.
Do lado dos creators, isso significa que é preciso ter real consciência sobre o impacto do conteúdo produzido na vida e na saúde mental das comunidades com as quais se conectam ou buscam se conectar. Então, pra realinhar valores, pode ser uma boa explorar novos formatos e ritmos de produção, além de buscar parcerias mais alinhadas com seus próprios princípios.
Já pra marcas, o negócio não é só fornecer entretenimento de qualidade. Isso tem sua importância, é claro – um conteúdo em linha com o que as pessoas acreditam, num tom menos impositivo e respeitando a saúde mental e o lugar de cada um, é um asset. Mas, cada vez mais, elas também precisam dar as ferramentas necessárias e incentivar que outros consigam produzir conteúdo assim. Num futuro próximo, isso se transforma num verdadeiro fator diferencial.
Em resumo, mais do que fornecedoras, marcas têm que ser incentivadoras pra se conectar de vez com a força do intencionalismo. Cultivar essa interação entre elas e a comunidade abre novas possibilidades pra construção de marca – e também pra desenvolver novos modelos de negócio alinhados com os cenários futuros da América Latina. Bora fazer essa conexão?